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Conheça histórias de pessoas que mudaram de emprego por respeito aos animais

A arte de pagar as contas sem machucar ninguém.


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Todo dia alguém decide se tornar vegano no Brasil. Não é exagero pensar que dezenas ou talvez centenas de pessoas façam isso. Basta perceber o aumento de notícias relacionadas ao veganismo na mídia. Quando se torna vegana, a pessoa escolhe parar de consumir produtos que causam sofrimento aos animais. Isso vale para a alimentação, vestuário, entretenimento e todos os aspectos da vida.

Mas e na hora de trabalhar? E se você fosse responsável pelas vendas de uma grande empresa pecuária? Ou se o seu dia a dia fosse baseado em inventar produtos novos com carne? Conversamos com 4 profissionais de áreas diferentes para entender o que levou essas pessoas a pedir as contas e mudar de emprego.

“A quantidade de animais mortos me impressionou muito. Às vezes, tinha pedido de 1 tonelada de frango.” 

Uma crise entre seu emprego e sua filosofia de vida foi o que aconteceu com a Analista Administrativo de Vendas Natacha Canovale, paulistana de 26 anos. Natacha era Assistente Comercial na Seara, responsável por organizar pedidos de animais mortos para clientes empresariais. “A quantidade de animais mortos me impressionou muito. Às vezes, tinha pedido de 1 tonelada de frango. Eu via os produtos que iam para o FIFO (First in First Out – produtos próximos ao vencimento) e a quantidade de vidas em vão indo para o lixo.” – diz. “O caminho que levava para o refeitório tinha vista para a parte de produção de hambúrgueres e salsichas; que visão nojenta!” – lembra.

Natacha tinha vontade de ser vegetariana e foram justamente os 6 meses que passou trabalhando na Seara que a ajudaram a ter certeza da escolha. “Desde sempre quis e tentei ser vegetariana, isso foi o fator decisivo. Fiquei 6 meses lá e pedi demissão. Me tornei vegetariana dois meses depois e logo em seguida vegana. Foi a melhor coisa que fiz. Logo que saí de lá conheci o meu hoje marido que já era vegetariano e nos tornamos veganos juntos.” – conclui. Hoje, ela trabalha na área de higiene e planeja ter seu próprio negócio no futuro.

O catarinense Guiomar Baccin, de 27 anos, era gerente de TI (Tecnologia da Informação) de um frigorífico em Chapecó-SC. Desde criança Guiomar não come carne e o período no matadouro também foi crucial para que ele pensasse mais a respeito. Já no primeiro dia de trabalho, uma triste realidade: “O salário era bem atrativo e aceitei o emprego. Logo no primeiro dia coloquei a farda branca e fui levado para um ‘passeio’ pela linha de produção, começando pela popular ‘pendura’, onde os frangos são pendurados de cabeça para baixo para o abate. Então, os frangos passam por uma espécie de choque elétrico, o que, teoricamente, destrói o sistema nervoso do animal para que ele não sinta dor. Após isso, uma pessoa corta a garganta do frango para que o sangue comece a escorrer e o processo de desossa possa prosseguir.” – conta.

O cheiro forte das penas fervendo me lembrava a morte daqueles milhares de seres sencientes.”

Segundo Guiomar, o frigorífico em que trabalhava mata mais de 150 mil animais por dia e o cheiro de morte é constante. “Foram vários os fatores que me fizeram tomar a decisão de sair daquela empresa. Um dos principais motivos foi o cheiro. O cheiro forte das penas fervendo que me lembrava a morte daqueles milhares de seres sencientes.” – diz. Somado a isso, presenciar o tratamento dado aos trabalhadores no matadouro também incomodou Guiomar: “Por muitas vezes notei os olhares de cansaço daquelas pessoas humildes, em sua maioria de origem indígena. Acidentes aconteciam todos os dias, eram rotina. Desde cortes nos dedos e nas mãos até graves mutilações, com menos frequência.” – lamenta.

Conhecer uma pessoa com quem pudesse conversar a respeito do veganismo também foi um motivo importante para Guiomar deixar o emprego, além de se envolver diretamente com a filosofia em ambiente acadêmico. “Fui aprovado no curso de Licenciatura Plena em Filosofia na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Comecei a frequentar o curso e conheci a Gabriela de Oliveira, que tinha se tornado vegetariana há alguns meses. Começamos a sair juntos e conversar sobre a questão ética do consumo de animais e decidimos nos tornar veganos.” – diz Guiomar. Hoje, o jovem catarinense é Analista de Sistemas em uma rede de postos de combustíveis e segue firme na faculdade de filosofia. “O veganismo trouxe apenas felicidade para a minha vida e da Gabriela. Quando me tornei vegano, minha alimentação se tornou mais variada e saudável.” – conclui.

Ao contrário dos casos anteriores, a Engenheira de Alimentos Flávia Marquesini Adriano, de 30 anos, entrou no emprego quando já era ovolactovegetariana, há 13 anos. Quando ingressou em uma grande empresa de produtos alimentícios, Flávia imaginava que teria que lidar pouco com produtos cárneos. Mas se enganou: “Eu tinha que desenvolver produtos como ‘recheio de calabresa’, ’recheio de frango’ e ‘canja’. Trabalhava no laboratório, que praticamente é uma cozinha mais equipada.” – diz a jovem, que mora em São Paulo, capital. Em certo momento, Flávia se viu obrigada a provar os pratos com carne que desenvolvia, mesmo sendo ovolactovegetariana. Além de ter que consumir carne, ela tinha dificuldades para saber se aquilo era realmente bom para o paladar de quem come este tipo de produto. Por isso, o problema ia além do âmbito filosófico. Era também profissional. “Precisava da ajuda dos colegas de trabalho para provar aquilo que eu estava desenvolvendo.” – lembra.

Sentia como se eu estivesse vendendo a minha alma.”

“Me sentia o tempo todo em conflito por estar desenvolvendo produtos que eu não queria que as pessoas comessem. Era muito frustante levantar todo dia bem cedo e trabalhar o dia todo com algo que era contra os meus princípios. Sentia como se eu estivesse vendendo a minha alma.” – conclui Flávia. Após 9 meses vivendo esse conflito, Flávia saiu do emprego e hoje trabalha com consultoria financeira e se tornou vegana.

A história do biólogo campineiro Jeff Davis, de 34 anos, envolve o Centro Infantil Boldrini, uma referência em tratamento de crianças com câncer no Brasil. Por 3 anos, Jeff trabalhou como Analista de Laboratório e lidou com situações bem complicadas em Campinas, interior de São Paulo. “Minha função era fazer necropsias, inclusão de material de biopsias cirúrgicas em bloco de parafina para fazer cortes histológicos e de coloração. Após, precisava encaminhar para o médico patologista dar o diagnóstico.” – descreve. O Boldrini tem uma parceria com a UNICAMP – uma das mais conceituadas universidades do país – para pesquisa em animais vivos. Quem doa para o hospital infantil nem imagina, mas está doando também para que essas pesquisas que torturam animais sejam feitas.

“Tive que conviver com muitos médicos fazendo experimentos com animais, pegando fragmentos de tumores de crianças assim que algum órgão ou pedaço de tecido era retirado do paciente na cirurgia. Imediatamente era selecionado um pedaço de câncer para ser implantado em animais na UNICAMP, pois o Boldrini não tem centro próprio de pesquisa – mas eles estão construindo um.” – alerta o biólogo.

“Eles não estão interessados em respeitar os animais.”

Sobre o Boldrini, Jeff desabafa: “Eles não estão interessados em respeitar os animais, em criar ou usar métodos alternativos. Nem muito menos trabalhar a prevenção, mostrando aos pacientes como podem evitar o câncer. Fazer exames e detectar alguma doença não é prevenção, é diagnóstico.” – diz. Mas os tempos difíceis também passaram para Jeff, que é vegano e ativista. Após 3 longos anos, ele conseguiu um novo emprego. “Hoje estou feliz no meu emprego, atuo como auxiliar de enfermagem e onde trabalho não há pesquisas com animais.” – conclui.

Em todos os casos é possível notar que simplesmente largar um emprego que faça mal aos animais é difícil. Na verdade, não é fácil largar qualquer emprego e conseguir uma recolocação imediata no mercado de trabalho. Mas também fica claro que a fase ruim passa quando a pessoa tem força de vontade e corre atrás do que deseja para sua vida.

Ter um relacionamento amoroso com alguém que pensa parecido também se mostra uma boa saída. O apoio mútuo faz com que as duas pessoas cresçam e tenham mais segurança quanto às suas decisões.

Se você está em situação semelhante, se tem um emprego que não condiz com sua filosofia de vida, não se desespere. Certamente você não está sozinho. Mas também não se acomode. Atualize seu currículo e gaste muita sola de sapato (ou o teclado do computador). Pagar as contas que chegam todo mês com um trabalho ético em relação aos animais pode parecer difícil, mas não é impossível.

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