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Vista-se Entrevista: Paulo Back, roteirista da Turma da Mônica


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Há algum tempo, foi publicado no Vista-se uma estorinha infantil da Turma da Mônica onde o personagem Penadinho dava uma lição contra o uso de peles. Confira aqui. Recentemente, descobrimos o autor da estória através do Twitter, o roteirista infantil e músico Paulo Back.

Muito gentil e interessado no tema abordado pelo Vista-se, Paulo respondeu algumas questões sobre o que o motivou a escrever sobre direitos animais. Confira abaixo a entrevista.

Vista-se: Paulo, muito obrigado por falar com os leitores do Vista-se. É muito bom saber que existe uma pessoa preocupada com os direitos animais fazendo parte da Maurício de Sousa Produções, afinal, a Turma da Mônica tem um alcance incrível há muitos anos. Pra começar: qual seu grau de envolvimento com o veganismo?

Paulo Back: Não me considero vegano 100%. Admiro quem seja, é uma das minhas intenções… minha e da minha esposa, mas pela praticidade não conseguimos ainda por completo. Abolimos carne vermelha, suína, etc há muito tempo do cardápio. Ficamos uns bons meses estritamente veganos, mas pela praticidade, trabalho e tempo, tivemos que retroceder um pouco. Portanto, peixe voltamos a consumir e infelizmente vez ou outra frango, ovos, mas preferimos os produtos ‘caipiras’. Tentamos, quando dá, fazer pratos com soja, mas ainda não nos tornamos experts no assunto. Minha esposa já se tornou perita em alguns pratos só com legumes e verduras muito bons.  É um longo caminho. Não é muito fácil pela praticidade, mas por exemplo, qualquer produto que contenha carne vermelha já nos causa repulsa.

Quando saímos para almoçar fora, procuramos restaurantes veganos, existem vários, e muito bons pela região. A crueldade contra os animais é a nossa principal ponto convicção.

Vista-se: Entendo. Tenho certeza que é questão de tempo então já que você e sua família se preocupam tanto com animais. Essa preocupação e interesse pelo assunto fez com que você escrevesse algumas boas mensagens para os leitores da turma da Mônica, como é o caso da estorinha em que o Penadinho dá uma lição contra o uso de peles. Você poderia citar alguns outros momentos importantes como este nas estórias?

Paulo Back: Esse carinho pelos animais tenho desde pequeno e quando entrei como membro da equipe do Mauricio de Sousa, vi também como oportunidade de passar alguns valores. A empresa sempre se preocupou em divulgar valores e bons conceitos na questão de respeito a natureza, crianças e animais. Em outros tempos – anos 60 e 70 – viamos personagens, como Chico Bento, caçando passarinhos e até o Pré Histórico Piteco caçando dinossauros.

Hoje os tempos são outros, e, apesar de vermos a comilona Magali sonhar com porcos assados, churrascos, e pernis, são conceitos  que pelo menos eu não gosto de  usar nas historinhas. Prefiro deixar a magali sonhar com um suflê de espinafre ou lasanha de brócolis, por exemplo.
Não há nada de errado nisso, já que brasileiro é carnívoro por excelência, mas pelo menos usando um cardápio um pouquinho ‘diferente’ posso atiçar a curiosidade da crianças com outros sabores.

Vez ou outra utilizo o assunto proteção aos animais em algumas historias. Talvez a mais polêmica tenha sido da ‘madame’ fascinada por peles, bolsas e sapatos de couro que, ao chegar ao limbo ( cemitério do Penadinho ) encontra todos os animais que morreram por causa de seus caprichos, como focas, raposas, jacarés, chinchilas. No final ela tem o merecido karma. Serve como ‘casaco’ para o próprio diabo, que sempre quis ter uma ‘pele’.

Pode ter sido meio chocante para algumas crianças, mas foi um jeito mais ‘leve’ de demonstrar tal crueldade nas historinhas.

Há outras, como um suposto tio do Chico Bento vai visitar sua fazenda, e para surpresa do garoto, ele é vegano, e como isso dá uma aula de culinária e valores ao caipirinha.
Não é só com o tema vegetarianismo eu me preocupo. Numa das últimas histórias, do Cachorrinho do Bidu, vários cachorros aparecem vítimas de abandono e maus tratos, no final, o próprio Mauricio aparece e ‘cria’ donos para todos, dando a deixa ao Bidu a aconselhar os leitores a adoção dos bichinhos. São muitas as histórias. Nem lembro de todas. Geralmente as do indiozinho Papa Capim, que envolvem caçadores, estes sempre levam a pior, ou fungindo dos animais  ou aprendendo algum tipo de lição com a preservação.

Posso estar sendo politicamente correto demais nesses aspectos, mas nem os dinossauros morrem mais nas mãos do Piteco, se depender de mim. (hehe)

Vista-se: O que o Maurício acha da Magali ter “sonhos vegetarianos” ou do tio do Cascão ser vegano? Ele acompanha de perto as criações ou deixa na mão dos roteiristas e não lê todas?

Paulo Back:Todas as histórias passam pelas mãos do Maurício. É ele quem aprova, faz sugestões, muda um texto, um final, uma ideia. E ele ainda tem tempo para fazer suas próprias histórias.

Não posso responder pelo Maurício sobre sonhos veganos da Magali ou do Cascão, mas o Maurício está sempre atento a tudo que acontece pelo mundo. Qualquer história envolvendo cuidados com animais, meio ambiente, saúde, educação é sempre bem vinda por ele.

O próprio Maurício, apesar de não ser vegano, foi criado em meio aos bichos em sua infância em Mogi das Cruzes. Ele é ainda um ‘meio’ Chico Bento no seu sitiozinho cercado de patos, passarinhos, cachorros.

Ele ama os animais e tudo que envolve a natureza e meio ambiente. É dele uma das mais belas historias da turma da Mõnica, no caso, do Chico Bento. ” Canto da Liberdade’, a historia, contada em primeira pessoa por um passarinho preso ‘inocentemente’ pelo nosso amigo caipira em uma gaiola. No final o passarinho enfraquece, não come, não se levanta mais, para que no último quadrinho, ele se sinta completamente livre, no espirito e na alma, podendo voar novamente ao céu, desencarnado. É de dar nó na garganta. Consegue passar de uma maneira simples e bonita o carinho que temos que ter com os animais.

Porém, não está escape do Maurício transformar algum personagem da Turma da Mônica em vegano, ou até criar um para passar alguns exemplos a turminha. Mas isso depende só dele.

Bom.. na verdade, ele já tem um personagente totalmente vegano, o Dinossaurozinho Horácio, que, apesar dos hábitos carnívoros da sua espécie, ele só come alfacinhas ( dizem por aí que o Horácio é o próprio alter ego do Maurício ).

Vista-se: Muito interessante Paulo, acho que todo mundo que leu e que lê essas estorinhas adora saber um pouco mais do universo de seus autores. Falando em Horácio, que é muito querido no meio vegetariano, você sabe quem foi seu criador? Saberia dizer com certeza ou tem algum palpite sobre o que motivou o autor a dar a luz a um dinossaurinho vegano?

Paulo Back: Horácio é criação do Maurício. Foi inspirado em um dos seus professores da infância. Como é um personagem filosófico e de bom coração, não faria sentido ele ser um feroz e cruel tiranossauro carnívoro. É a antitese das feras. Grande sacada do Maurício, que aliás, só tem grandes sacadas em seus personagens. Um Tiranossauro vegano…

Como é um personagem do início dos anos 60, quando o vegetarianismo nem era tão difundido assim no mundo ocidental, creio que tenha sido apenas uma característica a mais do dinossaurozinho, uma curiosidade de sua personalidade. Creio que não tenha sido algo criado para passar uma mensagem de vida, afinal pouco se falava em ecologia naquela época.

Vista-se: Não pude deixar de notar que você adora Beatles, tem até um site sobre o tema ( www.getback.com.br ) – o que de certa forma já mostra seu bom gosto. Paul McCartney é um dos ícones da história da música e vem despontando nos últimos anos como um dos principais ícones do ativismo em favor dos direitos animais. Como vegano, ele faz inúmeras ações em favor da causa animal. Como você – que também é músico – enxerga esse empenho dele? E conte pra gente se você se espelha em ações como as dele na hora de colocar o tema proteção animal em alguma estória ou de onde vem essa vontade de publicar direito animal na Turma da Mônica.

Paul Macca é um dos meus grandes ídolos, senão, o meu ídolo no mundo musical. Um ícone como compositor, cantor, multi intrumentista, letrista. Bom. Só por ter participado daquele ‘pequeno’ grupo chamado Beatles já bastaria.

Há vários anos ele tem se dedicado à causa animal. Inicialmente com sua esposa Linda McCartney, que adorava animais. Tornaram-se veganos ( como todos os demais Beatles ) e participavam de campanhas em prol do vegetarianismo e em defesa de animais ( contra uso de peles, etc ).  A própria Linda tinha uma linha de receitas veganas congeladas, vendidas na Europa ( e nos EUA.. não tenho certeza ). Depois da morte de Linda, Paul continuou … e continua… envolvido na causa, com ongs como PETA e a campanha ‘Meat Free Monday’, que estimula todos a pelo menos na segunda feira a não consumirem carne.

E temos ainda sua filha, Stella McCartney, que agora já é famosa o bastante para carregar seu próprio nome como estilista, usando e abusando de produtos de origem não animal em suas roupas ( peles, couro, etc ).

Atitutes como essas serviram de estimulo também às inúmeras histórias, como as que comentei lá em cima. Na musica meu grupo, Expresso procura enfatizar as letras voltadas a natureza e bem estar. Tenho outro grupo chamado Get Back especialista em Beatles.

Além disso eu e minha esposa temos uma família felina de 10 gatos, todos encontrados abandonados, em clínicas, terrenos, praias, até em latas de lixo.

Fora isso nós dois temos estamos sempre envolvidos na questão da doação de cães e gatos. Sempre surge um cachorro atropelado na nossa frente ou abandonado, precisando de um lar. Não é uma tarefa fácil dar destino para tanto bicho assim. Não é todo mundo que se sujeita a adotar um vira lata. Mas todo bichinho, seja cachorro… gato…, cuidado com carinho, torna-se um amigo para a vida toda.

Vista-se: Legal Paulo, muito obrigado novamente por conversar com os leitores do Vista-se, certamente matou a curiosidade de muita gente. Até a póxima.

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