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Conversamos com o primeiro vegano a escalar o Monte Everest, a montanha mais alta do mundo

Entrevista exclusiva com Kuntal Joisher.


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Formado em ciências da computação e trabalhando como programador, o indiano Kuntal Joisher foi o primeiro vegano a escalar a montanha mais perigosa do mundo, o Monte Everest. Com 8.848 metros de altitude, o Everest é o destino de alpinistas do mundo inteiro. Escalar o Everest é um dos maiores desafios do ser humano e muitos tentam, mas poucos conseguem.

Recentemente, uma alpinista vegana chamada Maria Strydom faleceu ao tentar escalar o Everest e a mídia atribuiu sua morte ao fato dela não consumir nada de origem animal. Mesmo tendo outros alpinistas morrido no mesmo período, apenas a morte de Maria foi exaustivamente noticiada. O alpinista indiano tem uma opinião muito clara sobre o caso e nós conversamos com ele sobre isso, entre outras coisas.

Procuramos Kuntal para entender como foram os desafios de chegar ao lugar mais alto do planeta Terra e voltar com saúde. Gentilmente, ele nos atendeu na tarde desta segunda-feira (13) por meio do Facebook e concedeu a maravilhosa entrevista que você lê a seguir.

Vista-se: Nós sabemos que você subiu e desceu o Everest em uma expedição de 45 dias. Mas quanto tempo antes você ficou se preparando para sair de casa rumo ao lugar mais alto do mundo?

Kuntal: Desde que eu me lembro eu sempre fui apaixonado pelas montanhas, por neve e pelo Himalaia. No entanto, eu só entrei de forma séria no alpinismo em 2009, mesma época em que comecei a pensar em subir o Monte Everest. E agora já faz mais de 7 anos que eu treino para isso. Além disso, quando eu decidi escalar o Everest, eu disse a mim mesmo que para ser capaz de subir a montanha mais alta do mundo eu tinha que estar na melhor forma física e mental da minha vida. Assim, no últimos anos a minha vida inteira foi construída em torno de treinamento para escalar o Monte Everest. Todo o resto na minha vida não era prioridade. Eu comia, bebia, dormia, sonhava e respirava o Monte Everest o tempo todo.

Eu treino 6 dias por semana e minha ideia é combinar 3 coisas: atividades de resistência cardiorrespiratórias tais como alpinismo, caminhada, subida de escadas, treinamento de força – na parte superior do meu corpo, tronco e membros inferiores para me dar um conjunto equilibrado. E, finalmente, treino de alta intensidade para me ajudar a baixar a minha frequência cardíaca de repouso (que era cerca de 46 antes da escalada do Monte Everest).

Eu também treino uma vez por semana sem comida e água para simular as condições que podem acontecer no alto da montanha. Além disso, eu vou a várias expedições de montanhismo de longa duração no Himalaia para construir na minha experiência e habilidades, e é também como eu me treino mentalmente. Ou seja, me coloco em situações difíceis para enfrentar meus medos e superá-los.

Além de meu treinamento físico e mental, eu também garanto uma dieta vegana muito limpa quando eu estou treinando. Concentro-me em comer alimentos integrais com baixa gordura e alta concentração de carboidratos e isso funcionou maravilhosamente para mim. Meu corpo se recupera rapidamente de alguns dos exercícios mais excruciantes que eu faço. Assim, a minha fórmula de treinamento é bastante simples: treinar duro, treinar de forma inteligente e me alimentar com comida vegana em sua forma mais natural, limpa e integral.

O que você tem a dizer para aqueles que atribuíram a morte da australiana Maria Strydom ao fato de ela ser vegana?

Antes de tudo, quero dizer a todos que Maria Strydom faleceu por conta da Doença da Altitude (Mal da Montanha). Esse mal não discrimina com base nas escolhas dietéticas. Qualquer um, mesmo o montanhista mais forte ou um guia local acostumado às condições, pode ter esse problema. Não comer ou comer carne não tem influência! Nos últimos anos, centenas de alpinistas morreram por causa da Doença da Altitude e nunca ninguém questionou se foi por que eles comiam carne. O frenesi da mídia em cima da morte da alpinista vegana é um clara irresponsabilidade jornalística e um dos piores exemplos de links feitos só para caçar cliques.

E por último, mas certamente não menos importante, eu sou um vegano. Sou vegano há 14 anos. Subi e conquistei o cume do Everest em 19 de maio, um dia antes da Maria tentar. Paula Leonard, uma alpinista vegana do Alasca, subiu no mesmo dia que eu. Nós estamos vivos e com todas as partes do corpo intactas e não tivemos problemas. Nenhum de nós teve a Doença da Altitude. Então, vamos colocar esta controvérsia para onde ela pertence: a lata do lixo!

Alguém disse que você não conseguiria? Os amigos e os seus familiares chamaram você de louco?

Pela primeira vez que eu anunciei para os meus amigos e familiares sobre o meu desejo de escalar o Everest eu tive reações variadas. Meus amigos e familiares mais próximos apoiaram 100% e sabiam que eu colocaria todo o esforço necessário para subir a montanha. Mas um outro grupo de pessoas achou mesmo que eu era louco, e alguns chegaram a pensar que era só papo e que eu não iria realmente para lá.

Eu já tinha tentado escalar o Everest duas vezes antes, em 2014 e em 2015. Nas duas ocasiões a expedição foi cancelada por conta de desastres naturais.

Várias pessoas tentaram me fazer desistir da escalada dizendo que a montanha não me queria lá e outros chegaram a dizer que eu não teria o que é preciso para chegar lá. Mas eu não dei ouvidos. Em vez disso, eu mentive o fogo dentro de mim queimando. Treinei mais duro do que nunca, nunca desisti do meu sonho e finalmente cheguei ao topo! A lição que eu aprendi é que você nunca deve desistir do seu sonho. As pessoas vão dizer coisas como ‘você é louco!’, ‘é impossível!’, ‘você certamente vai falhar!’. E muitas dessas coisas vão mesmo acontecer. Mas se você quiser alcançar o seu sonho, você tem que cuidar dele e protegê-lo como o seu bebê, trabalhando duro e treinando de forma inteligente para manter isso até chegar ao topo!

Houve algum momento durante a expedição em que você pensou que não iria conseguir?

Não. Eu não quero dar-lhe uma resposta dramática como ‘eu estava pendurado em uma corda, prestes a morrer e naquele momento eu pensei em desistir’. E, em seguida, contar uma história sobre como eu superei isso e cheguei ao topo. Nada dramático como isso aconteceu. Eu tenho treinado muito duro para este esforço física e mentalmente e não houve um momento sequer durante toda a escalada em que eu tive um único pensamento negativo ou vontade de desistir.

Qual será a sua próxima aventura? Você pretende retornar ao topo do Everest?

Eu devo dizer que eu amo escalar montanhas. O Everest foi um grande sonho para mim e eu gastei um tempo significativo perseguindo esse sonho. Contudo, eu não tenho intenção de escalar o Everest de novo. Existem muitas montanhas desafiadoras e lindas em volta do Himalaia e outras montanhas ao redor do mundo que eu adoraria escalar. Eu estou planejando escalar outra montanha de 8.000 metros na primavera de 2017.

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