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O custo da carne para o meio ambiente


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Texto de Cláudia Poggeto no jornal Correio Popular (Campinas) em 29/4/2008

A simples identificação dos fatores que geram maior degradação
ambiental pelas atividades econômicas que envolvem criação de animais para abate e posterior alimentação humana, por si, já favorece o entendimento da necessidade de uma mudança profunda no modo como indivíduos e sociedade encaram e se relacionam com o meio ambiente e indica a urgência em repensar – e reinventar! – os paradigmas de consumo global, como uma das principais alternativas viáveis para evitar as grandes catástrofes que se anunciam com tanto vigor.

Tanto se fala em aquecimento global e na conscientização do homem para conter o estrago na natureza por ele mesmo já instalado. Não ouço, porém, nos meios de comunicação, nem tão pouco nos programas que incentivam a preservação do meio ambiente, alguém sequer comentar que um dos principais fatores, causadores de todo desequilíbrio e suas conseqüências, que hoje enfrentamos é o consumo exagerado de carnes e seus derivados. Veja abaixo, contudo, parte da cartilha com informações alarmantes que a Sociedade Vegetariana Brasileira (www.svb.org.br) elaborou com base nas pesquisas de órgãos neutros, como por exemplo CETESB, IBGE, Instituto Cepa, Sabesp entre outros.

A prioridade que o Brasil escolheu dar ao agronegócio é, para dizer o
mínimo, discutível. A insustentabilidade desse modelo, que destrói
nossos biomas, contradiz o projeto de erradicação da fome dos
brasileiros, pois, como se sabe, o agronegócio é primordialmente
voltado para a exportação. A soja que devasta o Cerrado e invade a
Amazônia não vira alimento para pessoas, é exportada e transformada em ração de bois, frangos, porcos e peixes criados em cativeiro. Enquanto isso, fome e desnutrição assolam quase metade da população mundial.

Metade da agricultura mundial é voltada para a produção de ração para
animais. E a carne dos animais abatidos é acessível a menos de 15% dos seres humanos.

No Brasil, segundo o Instituto CEPA, um boi precisa de um a quatro
hectares de terra e produz, em média, 210 kg de carne, no período de
quatro a cinco anos. No mesmo tempo e na mesma quantidade de terra,
produz-se, em média 8 ton. de feijão ou 19 ton. de arroz ou 23 ton. de trigo ou 44 ton. de batata, e assim por diante.

Um relatório alarmante da FAO, publicado em 2006, indica que os
“estoques de animais vivos” mantidos para alimentação humana têm mais responsabilidade pelas mudanças climáticas do que todos os veículos automotores do mundo somados! No total, nada menos de 18% da emissão de todos os gases causadores do aquecimento global são gerados apenas pelas indústrias da carne.

Uma fazenda com 5 mil bovinos produz a mesma quantidade de excrementos de uma cidade com 50 mil habitantes. Nos Estados Unidos, a produção de excrementos de animais é de 104 mil kg por segundo!

Ao se falar em evitar o desperdício de água, as dicas são as de
sempre: fechar a torneira ao escovar os dentes, não lavar a calçada,
etc. Como consumidores conscientes, podemos ir muito além. No Brasil,
45% da água doce é gasta na pecuária e 45 milhões de pessoas não têm acesso à água potável. Neste país, a pecuária utiliza e contamina, em sua cadeia produtiva, mais água do que as cidades. Enquanto são
necessários menos de 500 litros de água para se obter 1 kg de soja,
para produzir 1 kg de carne bovina gastam-se até 15 mil litros de
água. Por isso, o vegetarianismo deve ser considerado com uma das
formas mais eficientes para economizar água.

O impacto ambiental da pecuária sobre o solo é fora de série, pois a
maior parte dos bovinos é criada pelo sistema extensivo: cada cabeça
de gado precisa, no mínimo, de um hectare (10 mil m2) de pasto para
engordar. Nossos rebanhos já contabilizam 200 milhões de cabeças e a
pecuária ocupa mais de 250 milhões de hectares, quase um terço do
território nacional! Essa ocupação desmedida do solo compromete nossa
terra de várias maneiras.

Entre 2002 e 2005, foram desmatados 70 mil km2 na Amazônia. Do
cerrado, que contém um terço da biodiversidade brasileira, hoje restam
20%. E menos de 7% da Mata Atlântica está de pé.

Conclui-se, portanto, que o vegetarianismo tem uma contribuição
inequívoca a dar em termos de produtividade. Qualquer projeto cuja
meta seja o combate à fome e a implementação de um sistema produtivo sustentável, em que o uso da terra seja otimizado de forma a
satisfazer as necessidades do maior número possível de pessoas,
deverá, obrigatoriamente, considerar a ênfase no vegetarianismo.

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